ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR PAULO DOS ANJOS

      Hoje estamos entrevistando o cantor e compositor goianense Paulo dos Anjos que mora há 20 anos em Portugal, no qual é uma honra para o Blog do Tenente Menezes entrevistá-lo através da web, este idealista que atravessou o Oceano Atlântico e representa bem através da cultura, o Brasil e a nossa querida Goiana na pátria-mãe (Portugal).

      Paulo José Miguel dos Anjos, nome artístico: Paulo dos Anjos, casado, cantor e compositor, nascido em Goiana-PE-Brasil, já realizou trabalhos como radialista, professor de música, produtor e arranjador. São mais de 100 composições e várias músicas gravadas por artistas no Brasil e Portugal, esta finalizando o primeiro CD solo. Mora na cidade de Almeirim em Portugal.

Paulo dos Anjos, como foi a sua infância na terra de Nunes Machado?

       Sendo o segundo de uma família de seis irmãos, tive uma infância feliz. Subi nas árvores dos quintais dos vizinhos, joguei pelada nas ruas ainda de terra onde morava, tomei banho na marezinha e no açude da Estância, brinquei de  pipa, pião, garrafão e preso-tô-solto. Enfim, fiz muito do que os meninos da minha época faziam. E já brincava de sonhar.

Paulo dos Anjos, Quais escolas em Goiana você estudou?

        Minha primeira escola foi o Círculo Operário da Rua das Quintas, com a saudosa professora D. Cenira. Depois o Major Gadelha, no Beco das Três Viúvas e a Escola Augusto Gondim, onde fiz o primeiro e segundo graus.  

Paulo dos Anjos, Quais as lembranças do tempo de escola, amigos e professores?

       As lembranças daquela época são as melhores possíveis. Ainda conservo a amizade e mantenho contacto com muitos dos colegas e professores com quem aprendi e compartilhei esses momentos. 

 

Paulo dos Anjos, você poderia falar sobre seus pais e irmãos na sua infância e adolescência?

       Sou filho de Seu Joaquim e D. Silvia. Meu pai, motorista e minha mãe, dona de casa, nos criaram com as dificuldades típicas de uma família numerosa, mas sempre com muito amor e disciplina. Desde cedo nos passaram valores, que ainda hoje fazem a diferença no nosso papel no mundo. Eles nos ensinaram que a família é a base de tudo. Sempre foram pais presentes e zelosos. Tivemos uma infância e adolescência feliz, com muitos momentos marcantes, que ainda hoje lembro com saudades. Por isso, mantemos ainda, entre os irmãos, um grande carinho e união, apesar de, naturalmente cada um ter seguido o seu caminho e história de vida.

Paulo dos Anjos, Como surgiu seu interesse pela música?

      Surgiu muito cedo, de uma forma intuitiva, quando acompanhava meu pai aos ensaios e tocatas da Banda Musical Curica, onde ele tocava. Aprendi solfejo com Seu Benedito Rico e com Mestre Dóda, também da Curica, mas foi na Saboeira que eu formei na banda, tocando trompete. Ao mesmo tempo, estudava violão e compunha minhas primeiras canções e nunca mais parei.

Paulo dos Anjos, O que você tem a dizer sobre as bandas Curica e Saboeira?

       Apesar do pouco contacto, são bandas que moram no meu coração, pela ligação que, como já citei acima, tive com elas no passado. Mas, independente disso, são verdadeiros patrimônios da nossa cidade e, (por que não?) do nosso país. Só lamento que não sejam tratadas com a dignidade o cuidado e o respeito que entidades culturais tão importantes como elas, merecem, apesar de terem sempre dignificado e elevado o nome de Goiana. É triste e revoltante o desprezo e a indiferença com que os nossos governantes, no decorrer dos anos, têm tratado marcos tão importantes da nossa cultura.

Paulo dos Anjos, Como você foi parar em Portugal?

      Por acaso, pois vim passar aqui, apenas uma ou duas semanas, numa viagem que tinha como destino final a Suiça. Como parceiro de aventura, meu querido e saudoso amigo e poeta Marcelo Arruda. A verdade é que 20 anos depois, continuo devendo uma visita ao meu suposto destino inicial. 

Paulo dos Anjos, Qual foi à receptividade quando você chegou em Portugal?

      Foi muito boa, pois vim para casa de uma prima casada com um português, que nos receberam muito bem. Por sinal, foram eles que, juntamente com a realidade monetária e cultural que encontramos aqui, nos estimularam a ficar.

Paulo dos Anjos, existiu alguma dificuldade na adaptação a uma nova cultura?

     Felizmente não. Pois já existia algum conhecimento da cultura brasileira, através das telenovelas que aqui já eram sucesso. As músicas, e alguns artistas brasileiros também já tocavam nas rádios e isso facilitou muito a minha penetração no mercado de trabalho. Mesmo assim, tive que fazer uma certa adaptação do meu repertório (totalmente MPB) à realidade local, muito mais pop e limitada quanto à música brasileira.

Paulo dos Anjos, O que mais te encanta em Portugal? 

      A tranqüilidade de poder passear na maioria dos lugares a qualquer hora, sem o stress típico da síndrome da violência. A beleza das paisagens (diferente da nossa), das cidades e castelos quase milenares, dos monumentos históricos, do bom vinho e da ótima gastronomia. Sem falar na cordialidade das pessoas, que apesar das pontuais despeitas e desconfianças, nos tratam com carinho.

Paulo dos Anjos, Qual o lugar mais bonito de Portugal na sua visão?

       Confesso que fica difícil escolher apenas um, pois seria injusto, mas eu destacaria alguns, como a vila de Sintra (onde fica o Castelo da Pena, lindíssimo), A vila de Óbidos, que é como uma viagem no tempo. A cidade de Évora também é lindíssima. Porto, Coimbra e a própria Lisboa; todas, cidades que evocam poesia e saudade.

Paulo dos Anjos, Curiosidade, você deve lembrar que aqui no Brasil os períodos eleitorais são bastante quentes. Em Portugal como se comporta o povo em um período eleitoral?

       Com muita tranqüilidade, já que não existe a propaganda ostensiva e barulhenta como aí. No dia da votação, ainda mais, pois o voto não é obrigatório e faz-se tudo com calma e muita “civilidade”.

Paulo dos Anjos, Amigos brasileiros em Portugal, quais os principais?

        Sempre foram o trio, Rosildo Oliveira, meu parceiro musical e os manos, também músicos, Maninho e Wellington Florêncio. Rosildo partiu, ficaram os dois e o saxofonista e percussionista cearense Felipe Gama, além de alguns amigos de outras áreas profissionais que vivem em nossa cidade. Destaco também o João Mariano, goianense que já percorreu quase toda à Europa como caminhoneiro e que hoje vive no Luxemburgo.

Paulo dos Anjos, Quem você poderia citar um amigo português e como surgiu esta amizade?

        Entre alguns bons amigos, citarei dois: Pedro Dias, esposo da minha prima e amigo, que me acolheu com carinho e me encaminhou na realidade portuguesa e Zé Água, músico português que me apoio incondicionalmente ainda no início e me escancarou as portas para o mercado de trabalho.

Paulo dos Anjos, Você gosta da música de qual cantor português?

       Existem muitos bons autores e cantores portugueses, destaco entre eles: Sergio Godinho, Luiz Represas, Dulce Pontes, Zeca Afonso (já falecido), Marisa, Vitorino, Maria João, Fernando Girão, Jorge Palma.

Paulo dos Anjos, Da nossa música brasileira, de quem você é fã?

        Djavan, Chico Buarque, Caetano Veloso, Rosildo Oliveira, Jor Santana, Lenine, Alceu, Maria Gadú, Bethania, Gal, Maria Rita, Seu Jorge, João Bosco, Milton Nascimento, entre tantos outros.

Paulo dos Anjos, Qual a lembrança mais marcante de Goiana?

       Os encontros e a cumplicidade dos amigos, o despojamento e a alegria do povo, o carinho dos ouvintes que me acompanhavam nas  noites de música.

Paulo dos Anjos, O que você faz para superar a saudade do Brasil e da família?

        Atualmente com a televisão à cabo; a Globo e a Record internacionais nos ajudam a amenizar a saudade. Os telefonemas e a net também ajudam, mas a família ainda é o suporte maior em que me apóio para seguir em frente.

Paulo dos Anjos, Qual o recado que você tem para sua família aqui no Brasil?

        Quero dizer que a saudade é grande e constante, mas com fé em Deus, em Setembro  estaremos juntos. Por isso me aguardem.

Paulo dos Anjos, Deseja responder alguma coisa que deixou de ser perguntado?

        Quero aproveitar a oportunidade para deixar um forte abraço à todos e dizer aos amigos e público que sempre me acompanharam, que em Setembro estarei por aí e que conto com a presença de todos no show que farei no dia 01 de Outubro na Saboeira.